Planejando uma rede gratuita e comunitária

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Para começar uma rede comunitária, o principal é a comunidade!

🙌 Como ponto de partida, é necessário formar um grupo de pessoas interessadas em trabalhar pela autonomia das suas comunicações, que sintam a necessidade de empreender este projeto tão tecnológico mas, sobretudo, tão social.

✓ Analisar a comunidade

As análises socioculturais inter-relacionam os fatores do contexto social que, juntamente com a compreensão das necessidades, normas e valores que definem a comunidade, nos permitem formular soluções precisas.

A análise dessa realidade como comunidade nos ajudará a tomar as decisões coletivas corretas e a gerar uma identidade que as represente.
As decisões sobre as características da rede livre e comunitária serão feitas com base no tipo de relacionamento existente na comunidade.

Por isso é tão importante fazer esta análise, para prever as limitações e necessidades que podem surgir em cada projeto de rede, no que diz respeito às pessoas que a utilizarão e às funções e objetivos que esta rede procurará favorecer.

Para guiá-lo nesta análise, você pode levar em consideração:

  • Quais as causas que motivam a construção de uma rede livre e comunitária?
  • Quantos habitantes a comunidade tem?
  • Quem usaria a rede e para quê?
  • Também pode ser feito um censo estimado de faixas etárias, sexo ou outras características relevantes.
  • É importante considerar se uma condição particular, como uma atividade de trabalho sazonal, faz com que a população aumente ou diminua abruptamente dependendo da época do ano.
  • Quais atividades predominam na área e como a existência da rede pode afetá-las?
  • Existem ameaças frequentes?
  • Quem participa da rede, que uso e que acesso a dispositivos tecnológicos possui?
  • De acordo com experiências anteriores em outros projetos, qual o nível de compromisso social existente na comunidade?

O ideal é criar uma rede digital e de pessoas fortemente vinculada à comunidade. Para atingir este objetivo, é muito importante a inclusão e participação de entidades e espaços de bem comum, como escolas, clubes, entidades governamentais, meios de comunicação, habitações, centros culturais, praças e paradas de transportes públicos.

Para citar alguns exemplos: Existem redes em cidades turísticas que tiveram que limitar o acesso durante as férias. Outras localidades tiveram que fazer um plano de “padrinhos e madrinhas” para atender famílias que por diferentes razões culturais não conseguiam autogerenciar seu nó (roteador). Também há localidades que decidiram deixar sua rede acessível e aberta em áreas da via pública devido à total ausência de cobertura de outros serviços de comunicação.

✓ Organize a ação

Desenhar uma organização de trabalho, comunicação, aprendizagem e encontro que envolva e inspire a participação de todas as pessoas é um grande e vital desafio para o funcionamento de uma rede livre e comunitária.

Normalmente, quando as pessoas se encontram para trabalhar coletivamente, a diversidade destaca conhecimentos e atitudes pessoais únicas e complementares.

Definir papéis de participação, áreas de trabalho coletivo e metodologias de comunicação interna favorece a autogestão para a manutenção do projeto no tempo.

A escolha de um nome para a rede e a concepção de um logotipo ou imagem representativa contribui para a construção da identidade coletiva. Também a criação de um site.

Definir metas de curto e longo prazo, ao mesmo tempo que ajuda a agilizar processos, permite um desempenho fluido do grupo. Além disso, ajuda a canalizar a vontade de assumir papéis proativos na resolução de problemas e na participação coletiva na tomada de decisões.

É de se esperar que haja diferentes graus de comprometimento das pessoas que participam da rede. Alguns dedicarão mais esforço do que outros ou desenvolverão habilidades diferentes.
Portanto, é saudável que haja um compromisso coletivo mínimo bem definido que todas as pessoas participantes devem cumprir para fazer parte do projeto.

A elaboração e o compartilhamento das características da rede, falando sobre o que é a rede, como ela deve atuar e os papéis específicos dos participantes, dá clareza ao projeto.

Os encontros presenciais periódicos são uma ferramenta muito importante para a geração de espaços de encontro comunitário, para a tomada de decisões, compartilhamento de conhecimento, planejamento e solução de problemas. O encontro também proporciona um espaço de construção da identidade coletiva e comunitária e convida outras pessoas a aderirem à rede.

Para citar alguns exemplos: há redes que realizam reuniões bimestrais, preparando previamente uma lista de temas a serem discutidos e anotando por escrito durante o encontro. Desta maneira, você pode compartilhar um resumo com as pessoas que não puderam comparecer e também arquivar uma memória da rede.

Em outros casos, são organizadas palestras e workshops presenciais para pessoas que desejam fazer parte da rede. Às vezes, as reuniões são obrigatórias para novas pessoas participantes.

Em algumas redes, a conversa frequente entre os participantes de uma rede é realizada através dos meios de comunicação do grupo, trocando opiniões, problemas específicos e informações.

✓ Pense em financiamento

Fazer uma análise econômica nos permitirá estimar e planejar o investimento monetário necessário para realizar o projeto e sustentá-lo ao longo do tempo.

Saber quanto dinheiro é necessário para o funcionamento da rede permitirá avaliar diversos mecanismos de autogestão e financiamento para as diferentes fases de compra, construção, montagem, reparação, ampliação e atualização da rede.

Portanto, por um lado, é preciso prever quanto dinheiro e outros recursos serão necessários e, por outro lado, como será feito para obtê-los.

Existem diversar maneiras de obter recursos, algumas podem ser:

  • Doações e trocas não monetárias, como permuta
  • Financiamento direto como assinaturas, mensalidades dos participantes da rede ou doações
  • Capital compartilhado, como fundos de ajuda mútua
  • A participação de fundações ou associações civis na comunidade
  • Financiamentos públicos como subsídios ou convênios com entidades governamentais, como é o caso do Serviço Universal em países onde existe e começa a ser utilizado para redes comunitárias.
  • Doações ou contribuições feitas por empresas
  • Realização de eventos de arrecadação coletiva, entre outros …
  • Uma combinação de opções aumenta a sustentabilidade do projeto.

A implantação e construção inicial da rede costuma ser o momento mais complexo e exigente, pois além dos nós, será necessário obter as ferramentas e materiais necessários e ainda considerar alguns excedentes para ter de reserva.

As compras no atacado e coletivas reduzem significativamente os custos e geram disponibilidade de materiais, mas ao mesmo tempo requerem um maior investimento monetário.

Para dar alguns exemplos de como o financiamento pode ser pensado, podemos dizer que, por exemplo, existem redes comunitárias onde cada pessoa que adere enfrenta os custos do seu nó individualmente. Nas demais redes, apenas o nó é pago no momento da instalação e as correções e atualizações são pagas com um fundo coletivo realizado com contribuições mensais de cada participante.
Existe também uma rede em que os primeiros nós foram financiados por uma ONG, um provedor da cidade vizinha ficou responsável pela conexão com a Internet e os participantes gestores da rede fizeram a implantação.

✓ Coodernar a administração

Manter um registro confiável realizado pelas pessoas que participam da rede que desejam assumir a função de administração é vital para o funcionamento organizado e ordenado da rede.

Isso nos permitirá ter um conhecimento coletivo dos movimentos de dinheiro, materiais, ferramentas e outros recursos. Alguns dos registros mais comuns são:

  • Compras realizadas e Inventário planejado de materiais e ferramentas, com os locais onde estão armazenados
  • Lista de preços dos materiais disponíveis, pensando em sua reposição
  • Detalhe da entrada de dinheiro ou títulos na rede
  • Arquivo de convênios e documentos importantes para o projeto
  • Manter um calendário de responsabilidades periódicas, pagamentos, relatórios, etc …
  • Agenda de contatos

✓ Planeje sua implantação

Fazer uma análise técnica antes da implantação da rede permite organizar tarefas e recursos com eficiência. Contar com tudo o que é necessário no momento de realizar uma tarefa ajuda o grupo a ser ágil e organizado e o trabalho a ser concluído em tempo hábil. Isso inclui tanto o material e o conhecimento indispensáveis para sua realização.

Embora existam inúmeras alternativas tecnológicas para a construção de uma rede comunitária, este modelo propõe o LibreRouter como um dispositivo fundamental. O LibreRouter facilita a implantação de redes livres e comunitárias porque foi concebido com esse objetivo em mente. A grande maioria dos nós da rede não apresentará grandes desafios. Porém, haverá casos que exigirão mais atenção criativa ou técnica. inclusive pode até ser necessária a colaboração de pessoas externas com conhecimentos específicos para resolver problemas específicos.

Os participantes com perfil mais técnico podem discutir, por exemplo, os seguintes tópicos:

  • Qual será a estrutura da rede, tanto a inicial quanto as ampliações
  • Como fortalecer a rede construindo links redundantes e assim chegar ao mesmo ponto por mais de um caminho
  • Identificar nós com maior tráfego de dados ou esforço excessivo e garantir o seu correto funcionamento
  • Certifique-se de que haja mais de um caminho para os pontos relevantes da rede, como a conexão com a Internet ou com servidores locais
  • Identifique a necessidade de equipamentos específicos ou mais potentes
  • Resolver problemas de energia elétrica não convencionais
  • Auxiliar nas metodologias de compartilhamento de serviços e conteúdo através da rede

Em alguns casos, pode ser necessário montar nós com antenas diferentes daquelas que os outros usarão; também pode ser conveniente implantar seções da rede por cabo em vez de por via aérea. Algumas situações demandarão de sistemas não convencionais de fonte alimentação de energia ou mecanismos de redundância com o uso de bateria. Cada rede apresentará suas peculiaridades técnicas que devem ser resolvidas, com paciência, criatividade e colaboração interna e externa.

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