Redes livres, comunitárias e descentralizadas

Baixar:

Nosso pedacinho da internet

Atualmente, cerca de metade das pessoas no mundo não tem acesso a Internet. Esta desigualdade se acentua em zonas rurais da África, América Latina e no sul do globo, onde a baixa densidade da população e a sua baixa renda representam pouco incentivos para a implantação comercial de infraestrutura de rede. Isto as convertem em zonas digitalmente excluídas ou desatendidas.

A realidade em que essas pessoas vivem em zonas digitalmente excluídas, na maioria dos casos, também enfrentam outras dificuldades com escasos recursos economicos, de trabalho, educacionais, de transporte, de eletricidade, de igualdade de gênero, de acesso a terra ou a água potável.

As redes livres e comunitárias tem um papel fundamental de facilitar a construção de infraestruturas tecnológicas autonomas de baixo custo para implantar redes de Internet. O objetivo principal é vencer as barreiras que se impõem na centralização e no controle das infraestruturas das redes comerciais e os conteúdos que por elas circulam.

O desafio não é só facilitar o acesso em sim de co-crear nosso pedacinho de Internet mediante as redes livres e comunitárias governadas por suas próprias comunidades, de maneira colaborativa e organizada.

Internet é um instrumento para incrementar a transparência e o acesso a informação e facilitar a participação cidadã em direção ás mudanças sociais, culturais, economicas e políticas que melhorem a situação das comunidades.

As redes livres e comunitárias propiciam a colaboração para consolidar os processos associativos e cooperativos de empoderamento das comunidades para um “outro mundo possível”. Visto desse modo, torna-se vital e necessário conceber a Internet como um bem comum.

Redes livres, comunitárias e descentralizadas

Ao conectar uma rede comunitária com Internet, a rede passa a fazer parte dela. Uma parte em que a comunidade elege como participar dessa rede global de redes.

Uma rede aberta, neutra e descentralizada se constroe pelas comunidades e através de acordos e consensos. Este processo colabora com a autonomia, a sustentabilidade e com o funcionamento da rede livre e comunitária.

Ao mesmo tempo, empodera as conunidades para desenhar a estrutura e funcionamento de sua própria rede respeitando as identidades e necessidades locais.

As redes livres e comunitárias permitem aprender e conhecer como funciona a rede para poder tomar decisões sobre ela e como está subordinada as regras do comércio e os critérios impostos que, na maioria das ocasiões, se contrapõem com os interesses das comunidades

O uso e a compreensão das tecnológias promovem um acesso inclusivo e consciente dos recurso digitais facilitando a formação, o aprendizado, o compartilhamento de saberes, a criação de meios de comunicação local, a participação cidadã, a economia social e regional.

Comunitarias

As redes comunitárias tem características próprias que as definem como tais e que constituem seus pontos forte:

  • Propriedade coletiva
    Quer decidir a sua infraestrutura (antenas, routers,cabeamento, etc.)é propriedade de todas as pessoas participantes da rede e da comunidade que a implanta. Não é propriedade de uma só pessoa, nem de um grupo minoritário, nem de uma só entidade pública ou privada.
  • Gestão social
    Se refere que a rede é administrada e gerida pelas mesmas pessoas participantes da rede. Não há uma pessoa que mande, ao vez disso, as decisões são tomadas colectivamente.
  • Desing acessível
    A informação sobre como funciona a rede e seus componentes é pública e acessível para que todas as pessoas possam saber e aprender, também replicar e difundir.
  • Participação aberta
    Significa que qualquer pessoa pode somar-se ou extender a rede, respeitando sua arquitetura, seus princípios e sua forma de organização.

Livres

Uma rede livre e comunitária não é um serviço gratuíto ou de baixo custo, para conectar-se com a Internet.

É um grupo de pessoas organizadas trabalhando para garantir o direito a comunicaçao de sua comunidade.

E para que além de comunitária seja uma rede livre tem que cumprir com estas outras quatro características que lhe dão essa identidade:

  • Livre uso
    Deve-se permitir o trânsito irrestrito para receber e oferecer qualquer tipo de serviços e conteúdos, em quanto não afete o bom funcionamento da rede. Ou seja, o fluxo de dados pela rede não é condicionado.
  • Neutralidade
    Esta característica faz com que o tráfico de dados se gestione de maneira igualitária, sem discrimina-lo segundo o conteúdo, plataforma, aplicação ou tipo de equipamento utilizado para o acesso. Os fluxos de dados na rede não são hierarquizados ou modificados arbitrariamente.
  • Se refere a garantir a interconexão entre redes, sendo o fluxo de dados livre, neutro e gratuíto em ambos sentidos, reciprocamente.

  • Trânsito livre
    Duas redes que mantêm acordos de livre trânsito permitirão não só o tráfego de dados entre elas, mas também o tráfego destinado a outras redes com as quais tenham acordos semelhantes. Os dados podem então atravessar uma rede livre para chegar a outra, expandindo o alcance dessa “rede de redes livres”. Nesta ilustração se represeta dois tipos de contratos de interconexão:
    • A rede de redes comunitárias tem um contrato entre iguais para livre trânsito e livre interconexão, respeitando a neutralidade. Graças a estes contratos, a rede 1 pode comunicar-se com a rede 3 atravessando em limitações a rede 2.
    • As redes 2 e 3 possuem um serviço comercial para conectar-se com o resto da Internet, mediante a uma relação contratutal que não é entre pares, se não entre provedor e consumidor. Este provedor não compartilha com seus clientes nenhum aspécto a implantaçao e configuração de sua rede.

Descentralizadas

A implantação destas redes livres e comunitárias utilizando uma topologia de malhas (mesh) possibilita o desenvolvimento das características antes mencionadas com maior naturalidade, considerando que sua característica básica é a descentralização.

Neste tipo de redes em malha, cada nó sem fio (roteador e antena) está conectado a um ou vários nós vizinhos. Assim, quando um dos nós deixa de funcionar por algum motívo, automaticamente os nós ativios buscam um novo caminho possível para que os dados chegem ao destino indicado. Ao mesmo tempo, deixa de ser necessário ter pontos de acesso centrais. Por isso, as redes mesh são redes descentralizadas e distribuídas.

Esta arquitetura distribuída de rede é mais econômica graças a não necessidade de nós concentradores ou centrais caras. A rede vai crescendo nó a nó, estendendo-se progressivamente e reduzindo os custos de implantaçao e manutenção.

Quando decidimos que queremos construir redes livres, comunitárias e descentralizadas, nos referimos a co-criar coletivamente nosso pedacinho de Internet para que nossas comunidades sejam também mais livres e comunitárias.

Projeto LibreRouter: Uma comunidade para tua rede

Durante muito tempo, as redes livres e comunitáiras se construiram com o trabalho colaborativo de pessoas programadoras e hackers. Juntas desenvolveram softwares livres e modificaram o hardware disponível, fornecendo respostas às necessidades específicas das redes.

Uma dessas conquistas foi mudar o software privativo que alguns roteadores domésticos comerciais traziam de fábrica.

Isso permitiu utilizar os roteadores em todo seu potencial, habilitando funções que os fabricantes limitavam seguindo sua lógica de mercado. Essas contribuições tornou a implementação de redes abertas, livres, neutras e descentralizadas significativamente mais baratas.

Em Agosto de de 2016, uma regulação promovida pela agência estatal dos Estados Unidos FCC (Federal Communication Commission), levou os fabricantes a bloquear a substituição do software que se encontra instalado e preconfigurado de fábrica.

Esse fato deixou claro que as redes comunitárias eram reféns de decisões arbitrárias sobre as quais tinham pouca ou nenhuma capacidade de decisão e ação.

O projeto LibreRouter contempla o desenvolvimento de hardware, software e documentação com foco nas necessidades das zonas digitalmente excluídas do sul do mundo.

Algumas características que se destacam são:

Hardware
O roteador e suas antenas estão armazenados em caixas plásticas resistentes ás intempéries. A placa possui diferentes conectores disponíveis para adptar o equipamento aos usos específicos. Por exemplo, um módulo GPS.

O projeto de arquitetura do hardware está disponível para quem queira estudá-lo, modifica-lo e reproduzi-lo, já que é um harware livre.

O LibreRouter vem pronto para usar com LibreRouterOS pré-instalado.

Software
As aplicações e programas são pensados como parte de um processo em que pessoas sem conhecimento sobre redes possam aprender a configurar, mapear, monitorar e diagnosticar a rede rapidamente.

Simplifica a expansão das redes. Os nós novos se autoconfiguram com informação que obtém dos preexistentes. Todo o software desenvolvido pela AlterMundi possui licença livre, qualquer pessoa pode utiliza-lo e adapta-lo às suas necessidades.

Documentação
Nossa documentação acompanha tanto no uso de LibreRouter, como das aplicações e programas desenvolvidos.

Em nosso site docs.altermundi.net se encontra toda a documentação em formato gráfico, audiovisual e em múltiplos idiomas.

Toda pessoa pode utilizar nosssos conteúdos livremente, reproduzi-los, modifica-los, traduzi-los e compartilhar-los.

Uma rede em sua comunidade

Através de nossa documentação, compartilhamos uma forma possível de organizar-se para começar neste caminho de construir uma rede livre e comunitária de Internet em suas comunidades.

É um processo cíclico e contínuo de pessoas ajudando-se mutuamente para realizar a organização do trabalho e das metas.

Estes ciclos de trabalho e organização guiam a implantação e manutenção da rede e continuam através da sua história e desenvolvimento, fortalecendo-a e transformando-a. Estes ciclos contribuem para a construção da rede como espaço de encontro e identidade coletiva.

Licencia Creative Commons
Esta obra está bajo una Licencia Creative Commons Atribución-CompartirIgual 4.0 Internacional.